5 de setembro de 2010

ilustrações para a opereta "A noiva do condutor" de NOEL ROSA livro publicado pela Editora Terceiro Nome











A Editora Terceiro Nome lança o livro

A noiva do condutor
de Noel Rosa

Ilustrações: Laura Gorski
Apresentação: Mônica Soutelo


O rádio estava no auge de sua popularidade e Noel Rosa trabalhava em diversas emissoras quando, em 1935, seu parceiro Almirante propôs à Rádio Club do Brasil um programa com o mote “Como se as óperas célebres do mundo houvessem nascido aqui, no Rio...”. Desse projeto surgem as três revistas radiofônicas compostas por Noel: as paródias O ladrão de galinhas e O barbeiro de Niterói, além de A noiva do condutor, a mais elaborada delas e única com tema musical inédito, com partituras compostas em parceria com o maestro húngaro Arnold Glückmann.

Um namoro de portão abre espaço para os versos bem-humorados de Noel, que rapidamente nos familiariza com personagens caricatos, de traços exagerados. A opereta transita entre o subúrbio e as elegantes avenidas do centro do Rio de Janeiro, retratando, no mesmo bonde, um cavalheiro da pomposa elite carioca e uma família suburbana cuja maior preocupação é certificar-se dos dotes do pretendente da jovem Helena. “O amor sem nota não tem mais-valia”, afirma em certo momento o pai da noiva, deixando claro que o tom da opereta quebra a seriedade e o romantismo do enredo e que, sem fugir à regra de Noel, o que fala mais alto é a vontade de zombar dos assuntos cotidianos.

As características principais do texto são a ironia, o humor crítico e a habilidade de embaralhar as palavras para dar um sentido particular às coisas. Exemplo? “Tipo Zero”, um dos sambas mais conhecidos da opereta: “Você é um tipo que não tem tipo / Com todo tipo você se parece / E sendo um tipo que assimila tanto tipo / Passou a ser um tipo que ninguém esquece”. Também vale observar os duplos sentidos e as rimas ricas e saborosas, território no qual o compositor foi um craque. Já na primeira canção, “Tudo pelo teu amor”, ele apresenta a personagem Helena, “linda flor de Cascadura” – sendo este um bairro do subúrbio carioca. Mas, ao ouvir a música, pode-se entender “linda flor de casca dura”. E aí está a visão sobre a mulher que predomina nas letras de Noel: fingida, dissimulada, interesseira. Outros temas recorrentes nos seus grandes sambas, como a mentira, a hipocrisia e o poder do dinheiro, também estão presentes neste musical.

Opereta pode soar um tanto empolado para um sambista como Noel. Mas, a impressão se desfaz quando se sabe, como ensina o Aurélio, tratar-se de “um gênero leve de teatro musicado, derivado de ópera-bufa, sobre assunto cômico e sentimental e no qual as estrofes cantadas alternam com partes faladas”. Noel acrescentou uma pitada tropical ao modismo musical europeu, incluindo sambas nas peças, além de valsas e marchas.
A noiva do condutor permaneceu inédita até 1985 quando, por iniciativa do selo Eldorado, comandado por Aluízio Falcão, ganhou gravação com Marília Pêra interpretando a noiva; Caola, o condutor; Grande Otelo, o pai dela; e Oscar Bolão, o pai dele. A partir daí pequenos grupos teatrais encenaram a peça em palcos pelo Brasil afora, em tímidas iniciativas que não chegaram ao conhecimento de um grande público.

Até hoje, a obra permanece pouco conhecida, e sua publicação não poderia ser mais oportuna: no ano em que Noel completaria um centenário de vida, A noiva do condutor chega às livrarias em edição especial, graciosamente ilustrada por Laura Gorski. Servindo-se de recortes, a artista plástica traz ainda mais humor ao cenário, aos personagens politicamente incorretos, à ironia de diálogos e poesias. A edição vem acompanhada, ainda, por uma apresentação da jornalista e pesquisadora musical Mônica Soutelo, que contextualiza a opereta de forma concisa, possibilitando que o leitor compreenda a importância deste musical entre as criações de Noel.

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